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Reconhecendo as Promessas de Deus




1. Promessas feitas a indivíduos específicos não foram formuladas com a intenção de ser válidas para todos os crentes. 

Um exemplo disso é Gênesis 12.2: “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção”. Essa promessa foi feita apenas a Abraão, e não aos crentes em geral. Portanto, os crentes de hoje não devem considerá-la como uma promessa bíblica dirigida a eles. Um outro exemplo é 2 Reis 20.6: “E acrescentarei aos teus dias quinze anos”. Essa promessa foi feita somente a Ezequias, e não a todos os crentes. Quando encontramos promessas na Bíblia, é bom fazermos duas perguntas: A quem esta promessa está sendo feita? O contexto indica que ela é uma promessa que eu posso aplicar pessoalmente, ou ela foi feita apenas a um indivíduo em particular?

2. Promessas feitas aos israelitas do Antigo Testamento geralmente não se aplicam a pessoas de hoje. 

Várias promessas do Antigo Testamento foram feitas exclusivamente aos israelitas, num contexto muito específico, e não se aplicam aos crentes de hoje. No livro de Deuteronômio, por exemplo, Deus prometeu, através de Moisés, grandes bênçãos se a nação teocrática (governada por Deus) vivesse em obediência à aliança sinaítica que Deus havia celebrado com ela. Deus também prometeu que, se a nação desobedecesse a seus mandamentos, ela sofreria as punições listadas na aliança –– inclusive o desterro (Dt 28.15-68). 

A história do Antigo Testamento está repleta de exemplos da infidelidade de Israel em relação à aliança. Os dois períodos mais significativos de exílio para o povo judeu envolveram a conquista de Israel pelos assírios, em 722 a.C., e o colapso de Judá diante do cerco babilônico, em 597-581 a.C. Como Deus prometera, a desobediência trouxe o exílio para o próprio povo de Deus. 

Uma promessa muito famosa, feita aos israelitas do Antigo Testamento, e que é muitas vezes aplicada impropriamente nos dias de hoje é 2 Crônicas 7.14: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”. Estas são palavras que Deus falou especificamente a Salomão em relação aos israelitas (o “meu povo” de Deus do Antigo Testamento). Porém, vemos freqüentemente pessoas aplicando esse versículo como uma promessa de Deus para seus países. No entanto, além de ser uma promessa específica para Israel, também encontramos nesse versículo o princípio geral de que Deus responde à oração e à humildade trazendo cura. Com base nesse princípio geral, os cidadãos brasileiros, por exemplo, deveriam se humilhar e orar, pedindo a Deus pela cura de sua terra –– mas não podemos afirmar que esse versículo é uma firme promessa feita ao Brasil. Em outras palavras, o princípio geral pode ser aplicado a todas as pessoas e todas as nações –– e Deus pode muito bem curar uma nação atual que se humilha e ora –– mas a profecia imutável que foi gravada em pedra e recebeu garantia de seu cumprimento foi feita somente a Israel.

Lembremo-nos de que fomos instruídos a não distorcer a Bíblia (2 Pe 3.16) e que somos exortados a manejar corretamente a Palavra da verdade (2 Tm 2.15). Como muitos versículos do Antigo Testamento lidam especificamente com os israelitas, em contextos específicos, estaríamos interpretando mal a Bíblia se tomássemos para nós promessas que Deus fez a eles. Porém, podemos inferir princípios dessas promessas e aplicá-los a situações que ocorrem conosco. Assim, por exemplo, quando lemos uma promessa feita à nação israelita dizendo que Deus abençoaria sua obediência (Dt 28.2), podemos deduzir o princípio geral de que Deus abençoa a obediência e basear nossa vida nesse princípio.

3. Algumas promessas bíblicas feitas no Antigo Testamento são aplicáveis aos dias de hoje. 

Nessa categoria estão as promessas bíblicas baseadas na natureza de Deus, e não em circunstâncias específicas concernentes aos israelitas. Um exemplo disso é Isaías 55.11, que faz referência à eficácia da Palavra de Deus: “Assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei”. Essa promessa está baseada inteiramente na soberania intrínseca de Deus. Como o versículo está baseado na natureza de Deus (uma natureza que não muda), ele fala de algo que é verdade em qualquer tempo e em qualquer lugar. 

Portanto, podemos ficar seguros de que a Palavra de Deus é tão eficaz hoje quanto era na época do Antigo Testamento. Algumas promessas feitas no Antigo Testamento se aplicam hoje por causa das fortes promessas paralelas encontradas no Novo Testamento. Esses paralelos indicam que Deus faz determinadas promessas gerais aos que o seguem, não importa se viveram na época do Antigo ou do Novo Testamento, ou até depois. Um exemplo está em Salmos 34.22: “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e nenhum dos que nele confiam será condenado”. Isto soa bem semelhante a João 3.18, onde lemos: “Quem crê nele não é condenado”.

Além disso, algumas promessas divinas do Antigo Testamento foram feitas aos que “confiam no Senhor” ou “buscam refúgio no Senhor” ou “esperam no Senhor”, e, portanto, se aplicam aos cristãos de hoje que confiam no Senhor, se refugiam nEle e esperam nEle. Por exemplo, em Isaías 40.31, está escrito: “Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão”. Em Salmos 31.23, lemos que “o Senhor guarda os fiéis”. Em Salmos 34.10 lemos que “aqueles que buscam ao Senhor de nada têm falta”. Essas promessas gerais parecem se aplicar aos crentes de todas as eras.


4. Os “ditos de sabedoria” do livro de Provérbios não foram escritos para serem considerados como promessas bíblicas. 

O livro de Provérbios é um “livro de sabedoria” e contém máximas de sabedoria moral. As máximas encontradas nesse livro foram criadas para ajudar os jovens da antiga nação de Israel a adquirir um conhecimento que os levasse a viver a vida com prudência. 

A palavra provérbio significa, literalmente, “ser semelhante” ou “ser comparável a”. Um provérbio, portanto, é uma forma de comunicar uma verdade usando comparações ou figuras de linguagem. Os provérbios cristalizam e condensam, de uma forma fácil de memorizar, as experiências e observações dos escritores a respeito da vida e apresentam princípios que, geralmente (mas nem sempre), são verdadeiros. A recompensa por meditar nessas máximas ou “ditos de sabedoria” é, obviamente, adquirir sabedoria. Mas esses ditos nunca tiveram o propósito de ser promessas bíblicas.

Um versículo que com freqüência é interpretado erroneamente como uma promessa é Provérbios 22.6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele”. Conheço pais que se apropriaram desse versículo como uma promessa e fizeram tudo o que estava ao seu alcance para criar seus filhos corretamente e no temor do Senhor. Mas, em alguns casos, os filhos acabaram se afastando do cristianismo e se perdendo na vida. Os pais desses filhos ficaram desiludidos e sem saber o que tinham feito de errado. Mas Provérbios 22.6 não foi escrito com a intenção de ser uma promessa. Assim como outros aforismos do livro de Provérbios, este versículo contém um princípio geral que normalmente é verdadeiro.

Mas um princípio geral sempre tem exceções à regra. Lembre-se de que Deus é o Pai mais perfeito que existe, mas seus filhos, Adão e Eva, certamente se desviaram. 

A boa notícia é que, se você seguir os princípios gerais expostos no livro de Provérbios, você, com certeza, verá certos resultados positivos em sua vida, e será muito mais bem-sucedido! Mas princípios não são o mesmo que promessas.

5. Palavras ditas por seres humanos e registradas na Escritura não são, necessariamente, promessas bíblicas. 

Obviamente, as palavras dos profetas e apóstolos contêm muitas promessas de Deus e devemos prestar muita atenção a elas. Mas, em outros casos, a Escritura simplesmente registra alguma coisa dita por um determinado indivíduo (que não era profeta ou apóstolo), e essas palavras não podem ser tomadas como uma promessa. Por exemplo, em Jó 4.8 está escrito: “os que lavram iniqüidade e semeiam o mal segam isso mesmo”. À primeira vista, pode parecer que Deus está prometendo trazer o mal sobre os que causam o mal. Entretanto, se examinarmos o contexto, veremos que essas foram palavras que Elifaz, o temanita, disse a Jó durante seu tempo de sofrimento. Portanto, elas não constituem uma promessa de Deus.

Da mesma forma, em Jó 8.6, lemos: “se fores puro e reto, certamente, logo despertará por ti e restaurará a morada da tua justiça”. Mais uma vez, à primeira vista, parece que Deus está fazendo uma promessa aqui. Mas o contexto mostra que essas palavras foram ditas por Bildade, o suíta. Precisamos sempre ter o cuidado de não tomar como promessa de Deus algo que uma pessoa disse a outra. 

6. Algumas promessas bíblicas são incondicionais, enquanto outras são condicionais. 

Este livro contém os dois tipos de promessas. Uma promessa condicional é uma promessa com um “se” embutido. Este tipo de promessa necessita que certas obrigações ou condições sejam satisfeitas para que Deus a cumpra. Se o povo de Deus deixa de satisfazer as condições, Deus não está obrigado, de forma alguma, a cumprir a promessa. Um exemplo disso é Tiago 1.25: “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito”. A bênção prometida nesse versículo depende da obediência à Palavra de Deus. 

Outro exemplo é João 15.7: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”. Essa promessa garante o atendimento das orações somente para aqueles que permanecem em Cristo e em quem as palavras de Cristo permanecem. Se a condição for satisfeita, a promessa é cumprida. Uma promessa incondicional não depende de tais requisitos para seu cumprimento. Não há nenhum “se” embutido. O que foi prometido é concedido soberanamente ao beneficiário da aliança, independentemente de qualquer merecimento (ou falta de merecimento) por parte deste. Essas promessas são válidas para todos os que pertencem à família de Deus. 

Muitas das promessas relativas à firmeza da posição dos cristãos no Senhor ou às bênçãos que temos em Cristo são incondicionais. Por exemplo, lemos em Gálatas 4.6,7: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo”. O fato de sermos filhos e herdeiros na família de Deus não depende do cumprimento de certas obrigações. Ao contrário, é algo que vale para todos os cristãos.


7. Ao interpretar as promessas de Deus, tenha sempre em mente o que outras passagens sobre o mesmo assunto revelam. 

A Escritura interpreta a si mesma. Este princípio diz que, se alguém interpreta um determinado versículo de uma maneira que contradiz claramente outros versículos bíblicos, então essa interpretação está incorreta. A harmonia escriturística é essencial.

Em vista desse princípio, considere a promessa bíblica em Marcos 11.23,24: “Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis”.

Precisamos interpretar essa promessa à luz do que é revelado por outros versículos da Bíblia. O contexto mais amplo da Escritura impõe limitações sobre o que Deus nos dará. Deus não pode nos dar, literalmente, qualquer coisa. Algumas coisas são realmente impossíveis para Deus nos dar. Por exemplo, Deus não pode atender a solicitação de uma criatura para ser Deus, nem atender um pedido de aprovação do nosso pecado. Deus não nos dará uma pedra, se pedirmos um pão, nem uma serpente, se pedirmos um peixe (Mt 7.9,10). A Bíblia impõe outras condições, além da fé, sobre a promessa de

Deus de atender a oração. Precisamos estar nEle e deixar que a sua Palavra esteja em nós (Jo 15.7). Não podemos “pedir mal” para satisfazer nosso egoísmo (Tg 4.3). Além disso, precisamos pedir “segundo a sua vontade” (1 Jo 5.14). Não podemos nos esquecer que, quando reivindicamos promessas condicionais de Deus, este “se for da tua vontade” deve sempre ser dito, explícita ou implicitamente. 

A maioria das modernas versões bíblicas tem referências cruzadas listadas numa coluna. Recomendo que, ao ler uma promessa bíblica, você examine as referências cruzadas para ter certeza de que está interpretando a promessa corretamente.

8. Ao interpretar as promessas de Deus, deixe o contexto determinar o significado apropriado das palavras bíblicas. 

Vou ilustrar o que quero dizer com 2 Coríntios 8.9: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que, pela sua pobreza, enriquecêsseis”. Alguns têm reivindicado este versículo como uma promessa de prosperidade financeira. Entretanto, essa interpretação não se encaixa no contexto. Observe que, se Paulo tivesse a intenção de dizer que a prosperidade financeira é providenciada na expiação, ele estaria oferecendo aos coríntios algo que ele mesmo não possuía naquela época. De fato, em 1 Coríntios 4.11, Paulo informou a esses mesmos irmãos que ele sofria “fome e sede”, estava nu e não tinha “pousada certa”. Contextualmente, parece inegável que 2 Coríntios 8.9 está falando de prosperidade espiritual, e não financeira. Isso se encaixa tanto no contexto imediato de 2 Coríntios quanto no contexto mais amplo das outras cartas de Paulo.

Outra ilustração pode ser encontrada em Isaías 53.5: “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados”. Alguns reivindicam esse versículo como uma promessa de cura física, mas o que parece estar sendo tratado aqui é a cura espiritual do problema do pecado. A palavra hebraica que significa cura (napha) pode se referir não só à cura física como também à cura espiritual. O contexto de Isaías 53.4,5 indica uma cura espiritual. Afinal de contas, “transgressões” e “iniqüidades” estabelecem o contexto do que está sendo “curado”. Além disso, vários versículos bíblicos corroboram a visão de que a cura física na vida mortal não é garantida na expiação e de que nem sempre é da vontade de Deus realizar a cura. O apóstolo Paulo não pôde curar o problema estomacal de Timóteo (1 Tm 5.23) e

nem curar Trófimo em Mileto (2 Tm 4.20) ou Epafrodito (Fp 2.25- 27). Paulo falou que teve uma “fraqueza da carne” (Gl 4.13-15). Ele também sofria por causa de um “espinho na carne” que Deus permitia que ele tivesse (2 Co 12.7-9). Deus certamente permitiu que Jó passasse por um período de sofrimento físico (Jó 1–2). Em nenhum desses casos, os indivíduos envolvidos agiram como se acreditassem que sua cura estava prometida na expiação.


FAZER TABELA
1. Promessas feitas a indivíduos específicos não foram formuladas com a intenção de serem válidas para todos os crentes.
2. Promessas feitas aos israelitas do Antigo Testamento geralmente não se aplicam a pessoas de hoje.
3. Algumas promessas bíblicas feitas no Antigo Testamento são aplicáveis aos dias de hoje. Nessa categoria estão as promessas bíblicas baseadas na natureza de Deus, promessas com paralelos no Novo Testamento e promessas gerais para “os que confiam no Senhor”.
4. Os “ditos de sabedoria” do livro de Provérbios não foram escritos para serem considerados como promessas bíblicas.
5. Palavras ditas por seres humanos e registradas na Escritura não são, necessariamente, promessas bíblicas.
6. Algumas promessas bíblicas são incondicionais, enquanto outras são condicionais.
7. Ao interpretar as promessas de Deus, tenha sempre em mente o que outras passagens sobre o mesmo assunto revelam.
8. Ao interpretar as promessas de Deus, deixe o contexto determinar o significado apropriado das palavras bíblicas.

Fonte:CPAD

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