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A Suficiência das Escrituras: Um Princípio Para Regular o Culto



Como podemos aplicar a suficiência das Escrituras ao culto da igreja? Os reformadores responderam essa pergunta aplicando Sola Scriptura à adoração, estabelecendo o que eles chamaram de Princípio Regulador. João Calvino foi o primeiro a articular de maneira sucinta esse princípio:

“Não podemos adotar qualquer artifício [em nosso culto] que pareça satisfazer a nós mesmos, e sim levar em conta as exortações dAquele que tem o direito de prescrevê-las. Portanto, se desejamos que Ele aprove

nosso culto, esta regra, que Ele mesmo enfatiza com muita rigidez, tem de ser observada com zelo... Deus reprova todos os tipos de cultos não sancionados expressamente por sua palavra”.

Calvino sustentava este princípio utilizando diversas passagens bíblicas, incluindo 1 Samuel 15.22 – “Obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” – e Mateus 15.9: “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.

John Hooper, um pastor inglês, contemporâneo de Calvino, afirmou assim este mesmo princípio: “Na igreja não deve ser utilizado nada que não tenha a expressa aprovação das Escrituras, para apoiá-lo, ou que seja algo indiferente em si mesmo, ou seja, que não traga qualquer proveito quando utilizado e nenhum prejuízo quando omitido”.

William Cunningham, um historiador da Igreja, que viveu no século XIX, definiu nesses termos o princípio regulador: “É insustentável e ilícito introduzir no governo e no culto da igreja qualquer coisa que não tem a sanção positiva das Escrituras”.

Os reformadores e puritanos aplicavam o princípio regulador contra os ritos formais, as vestes sacerdotais, a hierarquia eclesiástica e outros resquícios do culto da Igreja Católica. O princípio regulador era freqüentemente citado pelos reformadores ingleses que se opunham aos elementos da Igreja Alta no anglicanismo, os quais haviam sido emprestados da tradição católica romana.Foi o comprometimento de muitos puritanos com o princípio regulador que levou centenas de pastores puritanos a serem excluídos, por decreto, dos púlpitos da Igreja da Inglaterra em 1662.

Além disso, a simplicidade da forma de culto das igrejas presbiterianas, batistas, congregacionais e de outras tradições evangélicas é o resultado da aplicação do princípio regulador.

Os evangélicos de nossos dias fariam bem se recuperassem a mesma confiança que seus antecessores espirituais tinham em relação às Escrituras. Uma boa quantidade de tendências prejudiciais que estão ganhando importância nesses dias revelam a decrescente confiança dos evangélicos na suficiência das Escrituras. 

Por um lado, existe, como já observamos, uma atmosfera de circo em algumas igrejas que empregam métodos pragmáticos que trivializam aquilo que é santo, para impulsionar a frequência de pessoas na igreja. Por outro lado, um crescente número de evangélicos está abandonando as formas simples de adoração, em favor do formalismo da Igreja Alta. Alguns estão deixando completamente o evangelicalismo e unido-se à Igreja Ortodoxa e ao catolicismo romano.

Enquanto isso, algumas igrejas simplesmente abandonaram toda a objectividade, optando por um estilo de culto turbulento, emocional e destituído de qualquer sentido racional. Talvez um dos mais comentados movimentos que está varrendo o cristianismo no presente é o fenômeno conhecido como “Bênção de Toronto”, onde toda a congregação ri incontrolavelmente, sem qualquer motivo racional, late como cachorros, ruge como leões, cacareja como galinhas, pula, corre e convulsiona. Eles vêem isso como uma evidência de que o poder de Deus lhes foi transmitido.

Nenhuma dessas tendências está avançando por motivos bíblicos consistentes. Pelo contrário, seus defensores citam argumentos pragmáticos ou procuram o apoio de interpretações erradas de textos das Escrituras, do revisionismo da história ou tradições antigas. Esta é exactamente a mentalidade contra a qual os reformadores lutavam.

Um novo entendimento de Sola Scriptura – a suficiência das Escrituras – tem de nos estimular a continuar reformando nossas igrejas, a regular nossos cultos de acordo com as normas bíblicas e a desejar intensamente ser pessoas que adoram a Deus em espírito e em verdade.

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