A importância do preparo missionário
“Procura apresentar-te aprovado diante de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”, II Tm 2.15.
Neste texto, o apóstolo Paulo dá algumas orientações ministeriais ao seu bom discípulo e amigo Timóteo acerca de seu relacionamento com Deus e sua palavra. Paulo enfatiza ser necessária a continuidade do trabalho através do ensino a outros discípulos, quando diz: “O que ouviste de mim diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e aptos para também ensinar os outros.”, II Tm 2.2.
Observamos que Paulo está preocupado com a continuidade de seu ministério após a sua morte e por isso exorta Timóteo para que transmita todo o conselho de Deus a homens fiéis e esses por sua vez transmitiriam a outros e assim por diante...
Paulo seguia o exemplo de Jesus, demonstrando coragem e disposição em gastar tempo com seus discípulos homens a fim de prepará-los para uma obra que jamais teria fim. Jesus nos deu um grande exemplo em como preparar pessoas, ficando três anos com os seus discípulos ensinando-os no dia a dia até que pudessem levar avante a obra de Deus. O resultado deste investimento é que todos os discípulos (com exceção de Judas, é claro) tornaram-se missionários e o Evangelho chegou aos cantos mais longínquos da terra. Esses discípulos, seguindo o exemplo do Mestre, plantavam igrejas e faziam discípulos, preparando-os para continuarem a missão de pregar as Boas-novas a toda criatura.
Infelizmente, com o passar dos tempos a igreja deixou de se preocupar com o ministério – principal motivo do seu chamado, que é a proclamação do reino de Deus, considerando-o secundário. Para o exercício do ministério, de acordo com o que Deus deseja, a igreja precisa ter discípulos devidamente preparados, imbuídos de uma visão correta de sua missão. A igreja deve ter a consciência de que jamais realizará o projeto de Deus se não investir no preparo daqueles que são chamados.
Há algum tempo pouco era dito sobre capacitação, principalmente de missionários, mas estudos recentes têm mostrado a urgente necessidade de um bom preparo, a fim de evitar transtornos no campo, inclusive o retorno prematuro dos missionários. Existe uma corrente de pensamento que alega não ser necessário o preparo missionário. De acordo com essa linha, é fácil falar de Jesus com quem não temos nenhum tipo de relacionamento ou vínculo, ou seja, com um desconhecido. É só falar de Jesus! A consequência ao longo da história da igreja tem sido perdas irreparáveis de obreiros que abandonaram a obra de Deus por não suportarem as pressões e outros reveses do campo transcultural.
No campo, o missionário enfrenta muitos problemas como, por exemplo, costumes diferentes, língua, cultura, estresse, depressão, desânimo, além da saudade da família ou país, etc. Sem o devido preparo, tudo isso será insuportável. As agências missionárias do Brasil têm se preocupado cada vez mais em preparar adequadamente os candidatos à obra missionária, evitando-se assim o seu retorno prematuro. A capacitação visa preparar o candidato para a complexa tarefa de adaptação cultural e comunicação eficaz do evangelho em outra cultura. Quando há um bom preparo, o missionário, além de estar ciente dos possíveis choques, consegue fazer uma contextualização correta para comunicar a palavra de Deus com fidelidade, evitando o sincretismo ou o transporte de sua cultura para o povo onde está trabalhando.
Está provado que quanto melhor o preparo, menor o perigo de retorno prematuro e outras consequências desagradáveis ao campo, à agência, à igreja enviadora e ao próprio missionário. Adotar novos costumes é extremamente estressante e gera crise em qualquer pessoa e essa crise, por sua vez, é comparada à mesma que um soldado experimenta quando vai à guerra. Em razão dessa situação estressante é preciso que ele tenha uma âncora, pois, caso contrário, perderá facilmente o referencial e fracassará. Segundo Taylor, em média 5% dos missionários voltam prematuramente e, infelizmente, o Brasil é um dos países que possui a maior taxa de retorno prematuro do mundo, ou seja, 8,5%. A principal causa é a falta de preparo. Este problema faz parte das causas evitáveis e as agências missionárias podem contribuir para diminuir esse índice investindo num bom preparo de seus candidatos ao campo missionário. As desistências acontecem porque o missionário não aguenta as pressões do campo e aqueles que não foram treinados ficam evidentemente em desvantagem. Por quê? Entre eles, pela falta de consciência das dificuldades que vai enfrentar. Como praxe, as escolas de missões preparam os candidatos em várias áreas:
a. Espiritualmente: investimento no crescimento e relacionamento do aluno através da oração, jejum e leitura bíblica, por entender que estes quesitos são imprescindíveis na vida do missionário.
b. Relacionamento: aprender a viver em comunidade é fundamental para o desenvolvimento do trabalho missionário bem sucedido. É importante que o aluno aprenda a viver em comunidade, pois ali ele é confrontado e resolve seus conflitos. Isso é necessário para que conheçamos as pessoas irão para o campo. Se o candidato tem dificuldades em relacionar-se precisa ser tratado antes de sair, pois no campo pode gerar vários problemas.
c. Psicologicamente: as escolas trabalham o lado psicológico dos candidatos visando conscientizá-los das dificuldades que enfrentarão e através do pastoreio de missionário dá o acompanhamento específico para ajudá-lo a superar os possíveis traumas e outros problemas.
d. Culturalmente: o problema do choque cultural tem sido a causa de muitos retornarem do campo. Na escola, ele vai ser conscientizado das dificuldades que pode enfrentar e como lidar com o choque que inevitavelmente em maior ou menor proporção ocorrerá.
A doutora Antonia Leonora van der Meer (Tonica) diz: “O preparo cultural do missionário é a chave para uma boa adaptação, integração no campo e o bom êxito do seu ministério” (Revista capacitando, p. 25). A preparação não elimina automaticamente os problemas de adaptação, mas diminui o impacto dos mesmos, deixando o missionário mais sensível à realidade. Quando começa o preparo do missionário? Na igreja, evidentemente, mas continua com o curso teológico e a escola de missões. A igreja deve cumprir o seu papel de preparar e indicar pessoas qualificadas para estudarem e serem enviadas ao campo. Raramente pensa-se na igreja como lugar de preparo, no entanto, ela deve ser o primeiro seminário do missionário, depois o preparo formal. A igreja não pode se esquivar do papel de educação cristã, preparando os seus membros para desempenhar o ministério, Ef. 4.12.
O candidato à obra missionária precisa ter maturidade espiritual e emocional e acima de tudo compromisso com Deus. É imprescindível que o candidato conheça bem a Palavra de Deus e que tenha ter forte convicção do chamado de Deus para sua vida. Deus não chama missionários, mas servos que estão dispostos a dedicarem-se inteiramente a Ele.
Conclusão
Você tem um chamado de Deus para sua vida e quer que Ele o use na Sua obra? Então “procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da verdade”!
Obras consultadas:
ADIWARDANA, Margaretha N. Missionários: preparando-os para preservar. Londrina/PR: Descoberta Editora, 1999.
TAYLOR, William D. Valioso Demais para que se Perca. Londrina/PR: Descoberta Editora, 1998.
TOSTES, Silas. Missões Brasileiras em Resposta ao clamor do mundo. João Pessoa/PB: Betel Publicações, 2009.
REVISTA Capacitando para Missões transculturais, Nº 6, ano 1998.
Por:Florencio Moreira de Ataídes É bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Renovado de Cianorte, PR (1989); graduado História (licenciatura) pela Faculdade Teresa Martin (1996), pós-graduado em Ensino de Filosofia pela Universidade Católica de Goiás (2003); Mestre em Missiologia pelo CEM Centro Evangélico de Missões em Viçosa, MG, 2006.
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