Eles falaram outras linguas?
Por Altair Germano
Nesta segunda parte do subsídio para a Lição 3, estarei dando ênfase ao "Batismo no Espírito Santo na História da Igreja".
Quando falamos de história, vale lembrar que ao narrar os fatos, precisamos buscar o máximo possível de fidelidade às narrativas e documentos, e o máximo de neutralidade ideológica ou teológica.
Embora a história emocione, ela não pode ser escrita sobre o fundamento da emoção ou da paixão. A narrativa e o fato histórico precisam ser provados por testemunha ocular, documental ou material.
Dessa forma, vamos aos fatos.
O BATISMO COM (NO) ESPÍRITO SANTO ENTRE OS MONTANISTAS
O montanismo foi um movimento religioso que data do século II. Recebe esta designação em razão do ser fundador se chamar Montano, um sacerdote pagão da região da Ásia Menor chamada Frígia que se converteu ao cristianismo.
Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.), em sua "História Eclesiástica" (2003, p. 182), narra os fatos acerca de Montano e seu movimento da seguinte maneira:
"Diz-se haver certa vila da Mísia na Frígia, chamada Ardaba. Ali, dizem, um dos conversos recentes de nome Montano, quando Crato era procônsul na Ásia, tendo na alma excessivo desejo de assumir a liderança, dando ao adversário ocasião para atacá-lo. De modo que foi arrebatado no espírito, sendo levado a certo tipo de frenesi e êxtase irregular, delirando, falando e pronunciando coisas estranhas, e proclamando que era contrário às instituições que prevaleciam na Igreja, conforme transmitidas e mantidas em sucessão desde os primórdios. Mas quanto aos que aconteceu estarem presentes e ouvir esses oráculos espúrios, ficaram alguns indignados, censurando-o por estar sob a influência de demônios e do espírito de engano e por estar apenas incitando distúrbios entre a multidão."
Apesar da importância histórica do relato acima, vale salientar que Eusébio seguiu as ideias teológicas de Orígenes, foi provavelmente bispo de Cesaréia, simpatizou com o arianismo, mas coagido por Constantino, veio a aceitar a ortodoxia do Credo Niceno (Idem, p. 12). Sendo assim, já envolvido com a institucionalização e romanização do cristianismo, é possível perceber a força de suas palavras contra Montano. A frase "falando e pronunciando coisas estranhas", sugere a ideia do falar em línguas.
Sobre Montano, Olson (2001, p. 30) nos narra que ele reuniu um grupo de seguidores, construindo em Papuza uma comunidade. Duas mulheres, Priscila e Maximila, se uniram a ele para profetizar, alertando para o breve retorno de Cristo, e condenando os bispos e líderes como desprovidos de vida, corruptos e apóstatas. Montano e as duas profetisas, quando entravam em transe espiritual, falavam na primeira pessoa como se Deus, o Espírito Santo, falasse diretamente através deles.
Cairns (1988, p. 82-83) entende que na tentativa de combater o formalismo e a organização humana, e de reafirmar as doutrinas do Espírito Santo, Montano caiu no extremo oposto, concebendo fanáticas e equivocadas interpretações da Bíblia. O aspecto positivo do movimento foi que:
"O montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espírito de Deus. Infelizmente, estes movimentos geralmente se afastam da Bíblia, entusiasmados que ficam pela reforma que desejam. O movimento montanista foi e é aviso que a Igreja não esqueça que a organização e a doutrina não podem ser separadas da satisfação do lado emocional da natureza do homem e do anseio humano por um contato espiritual imediato com Deus."
Escrevendo sobre os acontecimentos, Sherrill (2005, p. 102), enfatizando a sua perspectiva pentecostal, diz que o movimento foi prejudicado pelo aumento das línguas e de outros fenômenos carismáticos.
Olson (Idem, p. 31) e diz que a reação contra os abusos e excessos de Montanos e seus seguidores, a liderança da igreja procurou se apoiar cada vez menos em manifestações verbais sobrenaturais, como línguas, profecias e outros dons, sinais e milagres sobrenaturais do Espírito. As manifestações carismáticas, sendo agora identificadas com Montano, quase se extinguiram no decorrer da história.
Para Synan (2009, p. 34) e Olson (Ibidem), o principal motivo da rejeição do movimento não foi a presença dos dons, mas a afirmação de Montano de que as declarações proféticas estavam no mesmo nível de autoridade com as Escrituras.
A Igreja reagiu a estas extravagância, condenando o movimento no Concílio de Constantinopla, em 381, declarando que os montanistas deviam ser olhados como pagãos. Tertualino, um dos grandes Pais da Igreja, tornou-se montanista (CAIRNS, idem). Sherrill (Idem) afirma que Irineu também aderiu ao movimento.
Com o montanismo, temos a primeira tentativa histórica do resgate do batismo com (no) Espírito Santo, da manifestação de línguas, profecias e dos demais dons extraordinários do Espírito.
O BATISMO COM (NO) ESPÍRITO SANTO E AS CONTRADIÇÕES DAS NARRATIVAS HISTÓRICAS
Na tentativa de desacreditar a continuidade do batismo com (no) Espírito Santo (cessacionismo), ou de buscar a evidência do mesmo ao longo da história, os relatos acabam divergindo entre si.
Iniciaremos comentando o seguinte trecho da Lição 3 (Ponto III, p. 23 da lição para mestre):
"Eis o testemunho de Agostinho (354-430): 'Nós faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas línguas'. Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que diremos de Lutero? Wesley? Finney?"
Todos os personagens acima foram citados por Andrade (2004, p. 104-105), em sua obra "Fundamentos Bíblicos de um Autêntico Avivamento". Analisemos cada caso:
Agostinho de Hipona (354 - 430)
A citação acima sobre Agostinho foi publicada originalmente no Brasil em 1969, na obra de John L. Sherrill, intitulada "Eles Falam em Outras Línguas" (SHERRILL, idem).
Na revista "Manual do Obreiro" do 1º trimestre/2011, no artigo "Manifestações do Espírito Santo na História", o pastor Isael de Araújo faz a mesma citação. O fato, é que tanto na obra de Sherrill, quanto na de Andrade e no artigo de Araújo, não encontramos a informação da literatura ou documento (fonte primária ou secundária) em que eles se basearam.
Opondo-se ao fato de Agostinho ter sido batizado com (no) Espírito Santo, ou de ter ensinado sobre isto, Synan (Idem, p. 34 apud LEWIS, Witnesses to the Holy Spirit. Valley Forge: Judson Press, 1978, p. 121) credita a Agostinho a declaração abaixo:
"Nos primeiros dias da Igreja, o Espírito Santo desceu sobre os crentes, e eles falaram em línguas que não haviam aprendido, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Isso se constituiu um sinal para aquele tempo: todas as línguas do mundo eram importantes para o Espírito Santo, porque o evangelho de Deus teria seu curso por meio de cada idioma, em todos os lugares da terra. O sinal foi dado e então expirou. Não devemos mais alimentar a expectativa de que quem receba a imposição de mãos deva receber o Espírito Santo e falar em línguas. Nas vezes em que impomos as mãos sobre aquelas 'crianças', os recém-nascidos membros da Igreja, nenhum de vocês (penso eu) ficou observando para ver se eles falavam em línguas ou, percebendo que não falaram, foi cruel o bastante para argumentar que eles não haviam recebido o Espírito Santo, pois se o tivessem recebido teriam falado em línguas, como acontecia no início."
Uma outra declaração de Agostinho é citada por Synam (Ibidem):
"Por que, pergunto, não ocorrem mais milagres em nossos dias, como acontecia nos tempos antigos? Respondo que eles eram necessários na época, antes que o mundo viesse a crer, para que o mundo fosse convencido."
House (2006, p. 69) afirma que "É interessante ver que, dentre as muitas evidências de que uma pessoa tem o habitar do Espírito Santo, Agostinho se contenta em referir-se a apenas uma, e esta é o amor".
Na Wikipédia, em seu artigo sobre a "grossolalia religiosa" (o fenômeno de falar em línguas), a posição cessacionista de Agostinho é reafirmada:
"Bispo de Hipona e Doutor da Igreja, Santo Agostinho, em sua homilia sobre o Evangelho de João 1,6-10, ensina que o Dom de Línguas foi necessário somente no início da pregação do Evangelho, quando era necessário espalhar a Boa Nova para todo o mundo. Depois disso, estando a Igreja espalhada por toda parte, esse dom cessou." (Santo Agostinho - Homilias em 1 João 6-10; NPNF2, v. 7, pp. 497–498.)
Uma posição conciliadora sobre a questão de que Agostinho ter sido um defensor da atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo ou um cessacionista, encontramos no site www.portalevangélico.pt., no artigo "História do Movimento Pentecostal", de 31/07/2006, que diz o seguinte:
"Agostinho tinha a expectativa de que o que era comum até ao terceiro século continuaria a acontecer no quarto. Porém, quando escreve Cidade de Deus anos depois, já no quinto século, no ocaso do seu ministério, ele transparece não acreditar mais na contemporaneidade de todos os dons espirituais."
Agostinho é um caso clássico de contradições, ao se buscar evidências na história para a sustentação de uma tese.
Martinho Lutero (1483-1546)
A informaçã de que Lutero foi um defensor da atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo com a evidência do falar em línguas, aparece na obra de Orlando Boyer, "Heróis da Fé":
"Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406:' Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito."
Boyer foi citado também por Andrade (Idem, p. 105):
"Com a Reforma Protestante, testemunhar-se-ia o advento de um gigante espiritual que haveria de abalar irresistivelmente os alicerces da civilização. Foi este titã um autêntico pentecostal. Segundo o historiador Sour (sic), Martinho Lutero falava línguas, interpretava-as, profetizava e achava-se revestido de todos os dons do Espírito Santo."
Afirma-se que Souer viveu no século XIX, mais de 300 anos após Lutero. A sua obra parece conter a única afirmação registrada sobre a possibilidade de Lutero ter falado em línguas.
Temos aqui mais um problema de discordância em termos de relato histórico. Observe abaixo, o que Lewis escreveu (Idem p. 173, apud SYNAN, idem, p. 173) escreveu sobre Lutero (ex-monge agostiniano):
"Seguindo a linha de Agostinho e Crisóstomo, Lutero respondeu com a seguinte opinião acerca dos sinais, maravilhas e dons do Espírito Santo: O Espírito Santo foi enviado de duas maneiras. Na igreja primitiva, foi enviado de forma visível, manifesta. Assim ele veio sobre Cristo no rio Jordão, na forma de pomba (Mateus 3.16), e sobre os apóstolos e outros crentes, na forma de língua de fogo (Atos 2.3). Essa foi a primeira vinda do Espírito Santo; ela era necessária na igreja primitiva, a qual precisava ser estabelecida por meio de sinais visíveis, para convencer os descrentes, como Paulo testifica em 1 Coríntios 14.22: 'As línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem'. Mais tarde, estando já a Igreja estabelecida e confirmada por aqueles sinais, a descida visível do Espírito Santo para continuar a obra não era mais necessária."
House (Idem, p. 84), cessacionista declarado, escreve:
"E Matinho Lutero? Longe de apoiar as ideias dos carismáticos dos seus dias, Lutero era ferozmente oposto a elas. Durante a ausência de Lutero no Castelo de Warteberg, os carismáticos assumiram a liderança em Wittenberg. Foi somente a pregação de Lutero que trouxe a sanidade de volta a Wittenberg, salvando a Reforma de um espírito de fanatismo e desintegração".
No caso de Lutero, duas coisas precisam ser consideradas, para que se chegue a uma conclusão sobre a sua posição acerca da atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo:
- O que o próprio Lutero escreveu sobre isso? Alguns afirmam que nada.
- Por que com a Reforma não temos o resgate das crenças e das experiências pentecostais norteando ou presente claramente no movimento? Seria pela urgência em combater os abusos doutrinários e eclesiológicos do catolicismo romano? Seria realmente pela posição cessacionista de Lutero?
John Wesley (1703-1791)
O nome de Wesley é o terceiro citado na lição bíblica, também cercado de controvérsias.
Em seu livro "Batismo no Espírito Santo" (2000, p. 38), o pastor Enéas Tognini, líder do movimento de renovação nas igrejas batistas no Brasil, fala sobre Wesley: "João Wesley converteu-se a Cristo e, depois de mais ou menos dois anos após a sua conversão, foi batizado no Espírito Santo [...]".
Na obra "Fundamentos Bíblicos de um Autêntico Avivamento" (Ibidem, p. 105), publicada pela CPAD e aprovada pelo Conselho de Doutrina da CGADB, o pastor Claudionor de Andrade escreve:
"No século 18, temos a destacar os irmãos Wesley e o príncipe dos pregadores ao ar livre, George Withefield. De conformidade com um relato fidedigno da época, foram os três de tal maneira visitados pelo Senhor que, certa vez, rolaram pelo chão, tamanho era o poder e a graça experimentados".
Nesta citação de Andrade, não fica claro de qual "relato fidedigno" se trata, nem se houve batismo com (no) Espírito Santo com a evidência de falar em línguas.
A questão sobre Wesley e o Batismo com (no) Espírito Santo se agrava, quando analisada à luz da obra "Teologia de John Wesley", escrita por Kenneth J. Collins, publicada pela CPAD (2010, p. 177-178), igualmente aprovada pelo Conselho de Doutrina da CGADB:
"Wesley e os metodistas, ao longo de boa parte do século XVIII, foram acusados de valorizar demais os dons, ou carismas, do Espírito Santo. Apresentando uma diferenciação entre dons extraordinários (como de cura, de operar milagres, de profetizar, de discernir espíritos e de falar e interpretar em línguas) e os comuns (de discurso convincente, de persuasão, de conhecimento, de fé e da facilidade para oratória), alega em uma carta para o Sr. Downes, pároco da Igreja St. Michael, que "repudia totalmente os 'dons extraordinários do Espírito' e todas as outras 'influências e operações do Espírito Santo' que não sejam aqueles comuns a todos os verdadeiros cristãos. Na verdade, o próprio Wesley, à parte de seus detratores, afirma o mérito de fazer essa distinção para que a igreja 'pudesse parar o crescimento do entusiasmo', o que hoje chamamos de fanatismo. Na percepção de Wesley, os dons extraordinários foram concedidos à Igreja Primitiva para que, por meio deles, 'Deus reconhecesse os cristãos como seu povo, e não judeus'. Ou seja, Wesley argumenta que as 'exigências da ea apostólica', demonstrando que o caminho da salvação flui apenas por intermédio de Jesus Cristo, 'requeriam os dons milagrosos, mas eles logo cessaram'.
O texto acima foi publicado originalmente na obra de Thomas Jackson, "The Works of. Rev. John Wesley", escrita entre 1829-1831, e publicada em Londres, em 1978, pela Weslyan Methodist Book Room.
Charles Finney (1792-1875)
O nome de Charles Finney é citado como alguém que vivenciou a experiência de Pentecoste por Andrade (Ibidem, p. 105) e Tognini (Ibidem, p. 38).
Um artigo no site da Igreja de Nova Vida, retirado do Jornal Tombeta de Sião, e intitulado "O Protestantismo e a Doutrina Pentecostal", confirma a declaração de que Finney, conforme escrevera em uma autobiografia, foi batizado com (no) Espírito Santo:
"Recebi um grande batismo no Espírito Santo [...] não sei se deveria dizer, mas não pude me conter e balbuciava palavras inexpressivas do meu coração [...]".
Discorrendo ainda sobre a evidência da manifestação de línguas na vida de Finney, o articulista cita James Gilchrist Lawson (1874-1946), que em seu livro "Profundas Experiências de Cristãos Famosos", escreveu :
"Em algumas ocasiões o poder de Deus se manifestava em tal grau nas reuniões de Finney, que quase todos presentes caíam de joelhos em oração, ou melhor, oravam com lamentos e queixumes inenarráveis pelo derramamento do Espírito de Deus".
Até onde cheguei em minhas pesquisas sobre Finney, não encontrei oposição quanto aos fatos acima narrados.
George Withefield (1714-1770)Agostinho é um caso clássico de contradições, ao se buscar evidências na história para a sustentação de uma tese.
Martinho Lutero (1483-1546)
A informaçã de que Lutero foi um defensor da atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo com a evidência do falar em línguas, aparece na obra de Orlando Boyer, "Heróis da Fé":
"Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406:' Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito."
Boyer foi citado também por Andrade (Idem, p. 105):
"Com a Reforma Protestante, testemunhar-se-ia o advento de um gigante espiritual que haveria de abalar irresistivelmente os alicerces da civilização. Foi este titã um autêntico pentecostal. Segundo o historiador Sour (sic), Martinho Lutero falava línguas, interpretava-as, profetizava e achava-se revestido de todos os dons do Espírito Santo."
Afirma-se que Souer viveu no século XIX, mais de 300 anos após Lutero. A sua obra parece conter a única afirmação registrada sobre a possibilidade de Lutero ter falado em línguas.
Temos aqui mais um problema de discordância em termos de relato histórico. Observe abaixo, o que Lewis escreveu (Idem p. 173, apud SYNAN, idem, p. 173) escreveu sobre Lutero (ex-monge agostiniano):
"Seguindo a linha de Agostinho e Crisóstomo, Lutero respondeu com a seguinte opinião acerca dos sinais, maravilhas e dons do Espírito Santo: O Espírito Santo foi enviado de duas maneiras. Na igreja primitiva, foi enviado de forma visível, manifesta. Assim ele veio sobre Cristo no rio Jordão, na forma de pomba (Mateus 3.16), e sobre os apóstolos e outros crentes, na forma de língua de fogo (Atos 2.3). Essa foi a primeira vinda do Espírito Santo; ela era necessária na igreja primitiva, a qual precisava ser estabelecida por meio de sinais visíveis, para convencer os descrentes, como Paulo testifica em 1 Coríntios 14.22: 'As línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem'. Mais tarde, estando já a Igreja estabelecida e confirmada por aqueles sinais, a descida visível do Espírito Santo para continuar a obra não era mais necessária."
House (Idem, p. 84), cessacionista declarado, escreve:
"E Matinho Lutero? Longe de apoiar as ideias dos carismáticos dos seus dias, Lutero era ferozmente oposto a elas. Durante a ausência de Lutero no Castelo de Warteberg, os carismáticos assumiram a liderança em Wittenberg. Foi somente a pregação de Lutero que trouxe a sanidade de volta a Wittenberg, salvando a Reforma de um espírito de fanatismo e desintegração".
No caso de Lutero, duas coisas precisam ser consideradas, para que se chegue a uma conclusão sobre a sua posição acerca da atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo:
- O que o próprio Lutero escreveu sobre isso? Alguns afirmam que nada.
- Por que com a Reforma não temos o resgate das crenças e das experiências pentecostais norteando ou presente claramente no movimento? Seria pela urgência em combater os abusos doutrinários e eclesiológicos do catolicismo romano? Seria realmente pela posição cessacionista de Lutero?
John Wesley (1703-1791)
O nome de Wesley é o terceiro citado na lição bíblica, também cercado de controvérsias.
Em seu livro "Batismo no Espírito Santo" (2000, p. 38), o pastor Enéas Tognini, líder do movimento de renovação nas igrejas batistas no Brasil, fala sobre Wesley: "João Wesley converteu-se a Cristo e, depois de mais ou menos dois anos após a sua conversão, foi batizado no Espírito Santo [...]".
Na obra "Fundamentos Bíblicos de um Autêntico Avivamento" (Ibidem, p. 105), publicada pela CPAD e aprovada pelo Conselho de Doutrina da CGADB, o pastor Claudionor de Andrade escreve:
"No século 18, temos a destacar os irmãos Wesley e o príncipe dos pregadores ao ar livre, George Withefield. De conformidade com um relato fidedigno da época, foram os três de tal maneira visitados pelo Senhor que, certa vez, rolaram pelo chão, tamanho era o poder e a graça experimentados".
Nesta citação de Andrade, não fica claro de qual "relato fidedigno" se trata, nem se houve batismo com (no) Espírito Santo com a evidência de falar em línguas.
A questão sobre Wesley e o Batismo com (no) Espírito Santo se agrava, quando analisada à luz da obra "Teologia de John Wesley", escrita por Kenneth J. Collins, publicada pela CPAD (2010, p. 177-178), igualmente aprovada pelo Conselho de Doutrina da CGADB:
"Wesley e os metodistas, ao longo de boa parte do século XVIII, foram acusados de valorizar demais os dons, ou carismas, do Espírito Santo. Apresentando uma diferenciação entre dons extraordinários (como de cura, de operar milagres, de profetizar, de discernir espíritos e de falar e interpretar em línguas) e os comuns (de discurso convincente, de persuasão, de conhecimento, de fé e da facilidade para oratória), alega em uma carta para o Sr. Downes, pároco da Igreja St. Michael, que "repudia totalmente os 'dons extraordinários do Espírito' e todas as outras 'influências e operações do Espírito Santo' que não sejam aqueles comuns a todos os verdadeiros cristãos. Na verdade, o próprio Wesley, à parte de seus detratores, afirma o mérito de fazer essa distinção para que a igreja 'pudesse parar o crescimento do entusiasmo', o que hoje chamamos de fanatismo. Na percepção de Wesley, os dons extraordinários foram concedidos à Igreja Primitiva para que, por meio deles, 'Deus reconhecesse os cristãos como seu povo, e não judeus'. Ou seja, Wesley argumenta que as 'exigências da ea apostólica', demonstrando que o caminho da salvação flui apenas por intermédio de Jesus Cristo, 'requeriam os dons milagrosos, mas eles logo cessaram'.
O texto acima foi publicado originalmente na obra de Thomas Jackson, "The Works of. Rev. John Wesley", escrita entre 1829-1831, e publicada em Londres, em 1978, pela Weslyan Methodist Book Room.
Charles Finney (1792-1875)
O nome de Charles Finney é citado como alguém que vivenciou a experiência de Pentecoste por Andrade (Ibidem, p. 105) e Tognini (Ibidem, p. 38).
Um artigo no site da Igreja de Nova Vida, retirado do Jornal Tombeta de Sião, e intitulado "O Protestantismo e a Doutrina Pentecostal", confirma a declaração de que Finney, conforme escrevera em uma autobiografia, foi batizado com (no) Espírito Santo:
"Recebi um grande batismo no Espírito Santo [...] não sei se deveria dizer, mas não pude me conter e balbuciava palavras inexpressivas do meu coração [...]".
Discorrendo ainda sobre a evidência da manifestação de línguas na vida de Finney, o articulista cita James Gilchrist Lawson (1874-1946), que em seu livro "Profundas Experiências de Cristãos Famosos", escreveu :
"Em algumas ocasiões o poder de Deus se manifestava em tal grau nas reuniões de Finney, que quase todos presentes caíam de joelhos em oração, ou melhor, oravam com lamentos e queixumes inenarráveis pelo derramamento do Espírito de Deus".
Até onde cheguei em minhas pesquisas sobre Finney, não encontrei oposição quanto aos fatos acima narrados.
Em se tratando de Withefield e o Batismo com (no) Espírito Santo, temos mais uma vez problemas.
Andrade (Ibidem) e Tognini (Ibidem), afirmam positivamente sobre as evidências do Batismo com (no) Espírito Espírito Santo em sua vida. Erroll House (Ibidem, p. 83) não concorda com este ponto de vista, e afirma:
"Muitos viram retratadas nas vidas de grandes pregadores sua noção favorita do batismo do Espírito. Sei de tais defensores que procuram fazer isto com George Whitefield. O Dr. Arnold Dallimore, que é responsável pela mais proeminente biografia de Whitefield, publicada em dois grandes volumes pela editora Banner of Truth, declara que tal afirmação não pode ser substanciada no caso de Whitefield. Ele é corretamente visto como o mais poderoso pregador da língua inglesa, até hoje; e ainda assim, ele se opôs fortemente à ideia de dois estágios de experiência cristã. [...] Que cada crente recebia 'o selo do Espírito' foi um elemento essencial da doutrina de Whitefield e ele nunca defendeu o ensino pentecostal como é conhecido hoje".
É bom lembrar, que as contradições das narrativas aqui citadas, em nada diminui a verdade sobre a atualidade do Batismo com (no) Espírito Santo com a evidência do falar em línguas.
Poderia avançar nesta abordagem histórica, o que farei quando da publicação destes textos em um futuro livro.
Para o blog, fico por aqui, entendendo que o levantamento destas questões deverão promover uma maior pesquisa sobre os fatos aqui descritos, além de proporcionar a oportunidade de outros cooperarem com informações que por um acaso não foram aqui colocadas, visto a limitação da bibliografia pesquisada por este autor.
Farei qualquer correção neste texto, caso as informações aqui expostas sejam convincentemente e cientificamente refutadas com as necessárias provas.
Livros Consultados
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos bíblicos de um autêntico avivamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
BOYER, Orlando S. Heróis da Fé. 15. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: Uma história da igreja cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1988.
CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos da igreja cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
HULSE, Erroll. O Batismo do Espírito Santo. São José dos Campos-SP: Fiel, 2006.
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Vida, 2001.
SHERRILL, John L. Eles falam em outras línguas. São Paulo: Arte Editorial, 2005.
SYNAN, Vinson. O século do Espírito Santo: 100 anos de avivamento pentecostal e carismático. São Paulo: Vida, 2009.
TOGNINI, Enéas. Batismo no Espírito Santo. São Paulo: Bompastor, 2000.
Periódicos Consultados
Lições Bíblícas. Atos dos Apóstolos: até aos confins da terra. Rio de Janeiro: CPAD, 1º trimestre/2011.
Manual do Obreiro. Atos dos Apóstolos: A ação do Espírito Santo na Igreja e através da Igreja. Rio de Janeiro: CPAD, ano 34, nº 52, 1º trimestre/2011.
Sites Consultados
Glossolalia religiosa. Disponível em http://pt.wikipedia.org, acessado em 28/12/2010.
James Gilchrist Lawson. Deeper experiences of famous christian. Disponível em http://www.archive.org, acessado em 28/12/2010.
Lutero profetizava e falava em línguas. Disponível em http://www.lideranca.org, acessado em 28/12/2010.
O protestantismo e a doutrina pentecostal. Disponível em http://www.invsc.org.br, acessado em 28/12/2010.
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