“E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas”. (Mc 11.15)
Vivemos dias difíceis e estranhos! Como as coisas ficarão, só o tempo dirá, mas eu tenho certeza de algo: tudo está debaixo da soberania de Deus. Ele ainda está no controle e dirige o coração dos governantes. A sua vontade irá se cumprir, e nada mudará isso.
Num momento de tantas incertezas, precisamos nos firmar nas certezas que temos. Como um discípulo de Jesus, toda a minha perspectiva precisa começar na Palavra de Deus e ser guiada por ela. Infelizmente parece que isso está faltando em nosso meio. O que precisa aflorar é a nossa indignação santa, bíblica, contra o pecado e suas consequências. Precisamos ser uma voz profética no meio do nosso povo, sim, mas não aproveitar a situação para atacar nossos irmãos e aquilo que a gente não gosta.
Quando Jesus reagiu aos mercadores do templo, ele se indignou e agiu contra aquele mal, mas ele não propôs uma “revolução” no templo. Ele poderia ter levado o povo a destruir os sacerdotes, reformar toda a adoração e o sistema religioso. Ele não fez isso. Ele acabou com toda a perversão comercial, opressora, corrupta que estava acontecendo no templo. Ele não utilizou a situação para expor seus interesses pessoais e atacar aqueles líderes religiosos que em poucos dias iriam entregá-lo às autoridades romanas (e quando isso aconteceu, Jesus foi claro com Pilatos: a autoridade que você tem vem de Deus, não o contrário).
Tenho visto muito ataque à chamada Missão Integral, inclusive por pessoas que já se utilizaram dela – e ainda a utilizam. Tudo em nome de uma posição política. Me parece que estamos perdendo o foco do problema. Nós estamos mostrando que somos divididos e que ainda não entendemos o Evangelho. Por questões pessoais, estamos denegrindo a igreja brasileira que ainda acreditamos estar fiel.
O Evangelho todo para o homem todo, para todos os homens. É uma definição bíblica de missão e quem crê na Bíblia como Palavra de Deus dificilmente irá negar isso. Sou calvinista, de uma igreja reformada histórica e percebo que essa visão, da “Missio Dei”, do evangelho integral, do engajamento social, o próprio Calvino já cria e praticava tudo isso há quase 500 anos! Nada de novo debaixo dos céus. Há, sim, aplicações e implicações diferentes para tempos e contextos diferentes, mas a teologia é a mesma. Muda-se o nome, a essência continua.
Cada um tem uma perspectiva, interpretação e ação próprias. Somos diferentes! E por mais incrível que pareça, isso é celebrado na Bíblia! Paulo diz: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4.10). Deus nos fez diferentes, e agimos de maneira diferente, debaixo da graça que ele nos concedeu. Não preciso concordar com tudo, mas não posso desrespeitar nem denegrir um irmão meu, alguém por quem Jesus morreu, reconheceu que era pecador e agora serve ao nosso Senhor, mesmo que de forma diferente da minha.
Estamos ferindo tantos mandamentos da Palavra de Deus que fico sem saber por onde começar. As redes sociais estão se transformando em arenas de batalha entre cristãos e estamos, na verdade, reproduzindo aquilo que os nossos irmãos coríntios fizeram. Só posso fazer a mesma pergunta de Paulo: “Acaso, Cristo está dividido?” (1 Co 1.13)
Se não deixarmos de lado nossas diferenças e não nos unirmos para lutar pela justiça no nosso país, nós já perdemos a guerra. Lembra? “Nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12).
Jesus orou por unidade:
“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.20-21).
Não haverá transformação em nosso país enquanto não mudarmos nossas atitudes como Corpo de Cristo. Creio que, como cristãos, não deveríamos estar divididos entre “verde amarelo” e “vermelho”. Deveríamos nos vestir de pano de saco e clamar a Deus por misericórdia! Que a gente reconheça o nosso pecado e busque a Deus de todo o coração. Que nos unamos como servos do Rei dos Reis e lutemos pelo Reino de Deus e toda a sua justiça. Assim, vamos, não só transformar esse país, mas seremos instrumentos para a cura das nações.
Que Deus tenha misericórdia de nós e do nosso país!
• Marcos Napoli é pastor e missionário. Atualmente, trabalha como obreiro de jovens na Igreja Presbiteriana de Viçosa (MG).
Fonte: Ultimato
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