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Como ler Gênesis (Gordon D. Fee e Douglas Stuart)


Informações básicas sobre Gênesis

Conteúdo: a história da Criação, da desobediência humana e suas trágicas consequências, e da escolha, por parte de Deus, de Abraão e sua descendência — o início da história da redenção
Abrangência histórica: da Criação do mundo até a morte de José, no Egito (c. 1600 a.C.?)
Ênfases: Deus como o Criador de tudo o que existe; a criação dos seres humanos à imagem de Deus; a natureza e as consequências da desobediência humana; o início das alianças divinas; a escolha, por parte de Deus, de um povo por meio do qual ele abençoará as nações

Visão Geral de Gênesis

Para os leitores modernos, Gênesis pode parecer um livro estranho, já que começa com Deus e a Criação e conclui com José num caixão no Egito! Mas essa estranheza é prova de que, embora apresente integridade como livro (estrutura e organização evidentes), Gênesis tem o propósito, ao mesmo tempo, de dar início a toda a história bíblica. A primeira palavra do livro (Bereshit = “em [o] princípio”), além de lhe servir de título, sugere o seu conteúdo. Assim, ele fala do princípio da história de Deus — Criação, desobediência humana e redenção divina — enquanto, ao mesmo tempo, dá início ao Pentateuco, a história da escolha de um povo, por parte de Deus, e do estabelecimento de uma aliança com esse povo, por meio do qual ele abençoaria todos os povos (Gn 12.2,3).
A narrativa de Gênesis apresenta duas partes básicas: uma “pré-história” (caps. 1—11), que consiste nas histórias da Criação, da origem dos seres humanos, da Queda da humanidade e do progresso implacável do mal — tudo isso tendo como fundo a paciência e o amor incansáveis de Deus —, e a história do início da redenção por meio de Abraão e sua descendência (caps. 12—50), o foco estando nas histórias de Abraão (11.27—25.11), de Jacó (25.12—37.1) e de José (caps. 37—50). Essas histórias, em parte, são estruturadas em torno de uma frase que ocorre dez vezes: “Estas são as gerações [genealogias/histórias/relatos de família] de”, um termo que pode se referir tanto às “genealogias” em si (como nos casos de Sem, Ismael e Esaú) quanto às “histórias de famílias”. Você perceberá que as histórias principais de Abraão, Jacó e José estão todas na história de família de seus respecti-vos pais (Terá, Isaque e Jacó)
A narrativa geral de Gênesis, portanto, começa imediatamente após o prólogo (1.1—2.3), com a primeira família humana no jardim do Éden, passando, a partir da família de Adão, por Noé e Sem e chegando,assim, a Terá e Abraão, e passando, finalmente, por Isaque e chegando, assim, a Jacó (Israel), e portanto até José. Ao mesmo tempo, também são fornecidas as linhagens familiares dos filhos rejeitados (Caim, Ismael, Esaú), destacando, assim, o contraste entre a “descendência eleita” e o “irmão rejeitado” (aquela tem uma história, este, só uma genealogia). Finalmente, perceba mais um recurso estrutural que dá forma à maior parte do livro: Deus usa Noé para preservar a vida humana durante o grande dilúvio (caps. 6—9), e usa José para preservar a vida humana durante a grande seca (caps. 37—50).

Orientações para a leitura de Gênesis

À medida que você lê esse primeiro livro da Bíblia, além de saber que a narrativa se desenvolve segundo as histórias de famílias, também atente para a forma como a trama principal, por um lado, e várias subtramas, por outro, cooperam para moldar a história de família mais ampla, que é a história do povo de Deus.
trama principal diz respeito à intervenção de Deus na história da condição caída da humanidade ao escolher (“eleger”) um homem e sua família. Porque embora as famílias de Abraão, de Isaque e de Jacó sejam, por assim dizer, os personagens principais, você não deve jamais esquecer que Deus é o Protagonista último — o que se aplica a todas as narrativas bíblicas. Esta é, acima de tudo, a história dele. Deus fala, e dessa forma cria o mundo e um povo. A história se torna do povo (e nossa) apenas na medida em que Deus traz essa família à existência, faz promessas a ela e realiza com ela uma aliança para ser o seu Deus. Permaneça atento, portanto, à forma como a trama principal se desenvolve, e a como os personagens primários se tornam parte da história de Deus.
Ao mesmo tempo, não deixe de observar as várias tramas menores, que são cruciais para a história maior do povo de Deus no Antigo Testamento — e em alguns casos, também, para a história do povo constituído pela nova aliança. Seis dessas subtramas merecem atenção especial.
A primeira — crucial para toda a história bíblica — é a ocorrência das primeiras duas alianças entre Deus e o seu povo. A primeira aliança é com toda a humanidade, por meio de Noé e seus filhos, prometendo que Deus nunca mais eliminará a vida da terra (9.8-17). A segunda aliança é com Abraão, e promete duas coisas em especial — a dádiva da “semente/descendência” que se tornará uma grande nação para abençoar as nações, e a dádiva da terra (12.2-7; 15.1-21; cf. 17.3-8, em que a aliança é ratificada pela marca identificadora da circuncisão). A segunda aliança é repetida a Isaque (26.3-5) e a Jacó (28.13-15) e serve, por sua vez, como base para as duas alianças seguintes no Antigo Testamento: a dádiva da Lei (Êx 20—24) e a dádiva da monarquia (2Sm 7).
comoler_abiblia_gA segunda subtrama é um pouco sutil no próprio Gênesis, mas é importante para o desenrolar posterior do tema da guerra santa(v. glossário) na história bíblica. Ela começa com a maldição de Deus sobre a serpente, de que Deus porá “inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência [semente] e a descendência dela” (3.14,15). O termo crucial aqui é “descendência” (semente), retomado em 12.7 em relação ao povo escolhido. Essa maldição prenuncia o tema da guerra santa, que é particularmente acentuado em Êxodo (a guerra sendo entre Moisés e o faraó, portanto entre Deus e os deuses do Egito; v. Êx 15.1-18), é desenvolvido na conquista e derrota de Canaã e de seus deuses (o que explica a maldição de Canaã em Gn 9.25-27) e culmina no Novo Testamento (na história de Jesus Cristo, e esp. em Apocalipse). Embora  em Gênesis esse tema não assuma a forma da guerra santa propriamente, pode se vê-la, não obstante, especialmente no conflito entre irmãos, ou seja, entre a descendência divina e a não divina (Caim/Abel; Ismael/Isaque; Esaú/Jacó), em que o mais velho persegue o mais novo, por meio de quem Deus escolheu operar (v. Gl 4.29).
A escolha, por parte de Deus, do mais jovem (ou do mais fraco, ou  do mais improvável) para levar adiante a descendência justa é uma terceira subtrama que começa em Gênesis. Aqui, ela assume duas formas em particular que são, então, repetidas ao longo da história bíblica.  Em primeiro lugar, Deus regularmente ignora o filho primogênito na  execução dos seus propósitos (uma ruptura considerável, da parte de  Deus, com as normas culturais então correntes): não Caim, mas Sete; não Ismael, mas Isaque; não Esaú, mas Jacó; não Rúben, mas Judá. Em segundo lugar, a descendência divina frequentemente é gerada por uma mulher antes estéril (Sara, 18.11,12; Rebeca, 25.21; Raquel, 29.31). À medida que você lê a história bíblica inteira, é uma boa ideia prestar atenção nesse tema recorrente (v., p. ex., 1Sm 1.1—2.11; Lc 1).
Ligado a esse tema está o fato de que os escolhidos não devem a escolha de Deus à própria bondade; aliás, os defeitos desses escolhidos são fielmente narrados (Abraão em Gn 12.10-20; Isaque em 26.1-11; Jacó ao longo da sua narrativa [repare no quanto a família no capítulo 37 é disfuncional!]; Judá em 38.1-30). Deus não os escolhe em vista do caráter inerente deles; o que faz deles a descendência santa, antes, é que eles confiaram, no final, em Deus e na sua promessa de que seriam o seu povo — um povo extraordinariamente numeroso — e de que herdariam a terra à qual primeiro vieram como estrangeiros.
Uma quarta subtrama vem à tona mais tarde na história, em que Judá assume o papel de líder entre os irmãos na longa narrativa de José (caps. 37—50). Ele aparece pela primeira vez no capítulo 38, em que suas fraquezas e sua pecaminosidade são expostas. Mas seu papel principal tem início em 43.8,9, em que ele garante a segurança de seu irmão Benjamim, e atinge o clímax com sua disposição em tomar o lugar de Benjamim, em 44.18-34. Tudo isso prenuncia a bênção de Jacó em 49.8-12, segundo a qual o “cetro não se afastará de Judá” (apontando para o reino davídico e, indo além deste, para Jesus Cristo).
Uma quinta subtrama é encontrada na prenunciação do “capítulo” seguinte na história — a escravidão no Egito. O interesse no Egito começa com a genealogia de Cam (10.13,14; Mizraim é o termo hebraico para “Egito”). A narrativa familiar básica (de Abraão até José) começa com uma fome que leva Abraão até o Egito (12.10-20) e conclui com outra fome que leva Jacó e toda a sua família a se estabelecer no Egito, enquanto Isaque, na sua viagem para o Egito durante ainda outra fome, recebe a ordem expressa de não ir até lá (26.1-5).
Finalmente, o interesse em detalhar as origens dos vizinhos próximos de Israel, que se lhe tornam espinhos na carne ao longo da  história do Antigo Testamento, forma uma sexta subtrama. Além dos  personagens principais, Egito e Canaã (10.13-19), observe também, respectivamente, Moabe e Amom (19.30-38), Edom (25.23; 27.39,40;  36.1-43), e o papel menor de Ismael (39.1; cf. Sl 83.6)

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