O Fruto do Espírito e a verdadeira liberdade
Será que posso fumar? Ou frequentar baladas? Ou ainda posso namorar pessoas que não professam a fé cristã? E o sexo antes do casamento? Posso dançar? Etc. e tal. Eu já ouvi essas perguntas diversas vezes e sempre evito respondê-las. Não que eu esteja desprovido de uma opinião solidificada sobre cada uma dessas polêmicas, mas normalmente não quero passar para mim a responsabilidade de escolha que cabe ao interrogador. Ora, se vivemos no Espírito temos a capacidade de discernir sobre o momento de avançar e o momento de levantar barreiras.
Muitas vezes estamos excessivamente preocupados com leis, normas, diretrizes etc. Mas deveria ser assim? Será que o cristão pleno do Espírito Santo é um sujeito levado para “onde o vento quer” desde que esteja sob uma rédea rígida dos códigos de conduta? O apóstolo Paulo lembra que não há lei contra o fruto do Espírito (Gálatas 5.23). “Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”, como escreveu o apóstolo à igreja de Corinto (2 Coríntios 3.17). Ou seja, a lei não pode nem ajudar nem impedir o caráter moldado pelo Espírito Santo. Assim sendo, logo podemos viver livres para servir a Cristo de coração ou ainda precisamos viver como animais selvagens – que sem domesticação ferrenha desemboca nos instintos mais selvagens?
O teólogo Yves Congar escreveu:
O cristianismo não é uma lei, embora comporte uma; não é uma moral, embora comporte uma. Ele é, pelo dom do Espírito de Cristo, uma ontologia de graça que traz consigo, como seu produto ou seu fruto, alguns comportamentos requeridos, exigidos até, por aquilo que somos (…), o Espírito é uma lei, não por pressão, mas por chamamento.[1]
Eis aí um fato novo no mundo religioso. O legalista sempre acha que precisa ajudar a Deus com a criação de novos costumes, usos e conceitos proibitivos, mas a Palavra de Deus ensina que quem é cheio do Espírito Santo não necessita de leis externas, pois o seu desejo profundo é amar a Deus e ao próximo acima de tudo. O cristão, portanto, longe está da libertinagem, que abraça o pecado, e do legalismo, que se agarra ao ornamento jurídico ineficaz. O homem de Deus, por exemplo, não se emporcalha com uma imoralidade porque há alguma regra contra isso, mas sim porque o seu coração tem ojeriza por tal coisa e deseja acima de tudo glorificar a Deus com a sua vida.
É bem verdade que a natureza pecaminosa habita em cada um de nós, mas como a graça de Cristo mediante a operação do Espírito Santo (cf. Romanos 5.5) podemos progressivamente ganhar essa batalha. A luta é árdua e há quedas e derrotas no meio do caminho. A verdade é que não é fácil, aliás, essa guerra é simplesmente impossível de ser vencida diante das nossas forças fraquejadas, mas como Ele “tudo é possível ao que crê” (Marcos 9.23).
Referência Bibliográfica:
[1] CONGAR, Yves. Ele é o Senhor e dá a Vida. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2010. p 175.
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