Jesus e as Mulheres
Na época de Cristo, as mulheres não podiam estudar as Escrituras (Torá). Não havia escribas (estudiosas da Lei) do sexo feminino e elas não podiam ler em voz alta na sinagoga. Aliás, a maioria esmagadora das mulheres não sabia ler. No primeiro século, um rabino chamado Eliezer afirmou que as palavras da Torá deveriam “ser queimadas do que confiadas a uma mulher”. Nem na hora da oração elas tinham algum valor, isso porque as mulheres, os escravos e as crianças não eram obrigados a recitar o Shemá, a oração especial da fé hebraica. É como se não existisse dignidade suficiente nesse tipo de pessoa (mulheres, escravos e crianças) para falar diretamente com Deus e sobre Deus.
É nesse contexto que Jesus faz de uma mulher (que além de mulher, era samaritana e tinha má fama) a sua primeira missionária. É, também, nesse contexto, onde raramente uma mulher podia servir de testemunha em um tribunal, que Deus fez delas as primeiras testemunhas e anunciantes do maior milagre da história: a ressurreição de Cristo. Um dos ditados da época dizia que quem fala muito com uma mulher “atrai para si próprio infortúnio, negligencia as palavras da Lei e finalmente ganha o inferno” e é, também, nessa conjuntura que Jesus conversava longamente com mulheres e cultivava até discípulas, uma atitude reprovável para os grandes mestres da época, inclusive os gregos, tidos com os pais da democracia. Quando Cristo estava pregado na cruz, o seu momento mais difícil, os Evangelhos relatam apenas um homem na cena (o apóstolo João) e três mulheres.
Não é à toa que o apóstolo Paulo, um imitador de Cristo, escreve décadas depois a frase mais igualitária da história: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28).