" A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”.
Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo da Igreja Luterana da Alemanha. Somente nos seus 21 anos já doutor e pastor tever coragem enquanto a a Igreja Católica guardou silêncio e igrejas protestantes quiseram a neutralidade diante do Regime Nazista de Hitler, Bonhoeffer se levanta
com seu discurso e levantou sua voz.
Sendo acusado de cúmplice no plano para matar Hitler, Bonhoeffer foi preso e passou seus dois últimos anos de vida em uma prisão de Berlim, aguardando sentença final. Ali se dedicou a escrever vários de seus livros, que são conhecidos até hoje. Entre eles, "O Custo do Discipulado"1, uma joia da literatura cristã, que faz uma exposição à luz do Sermão do Monte (Mateus 5).
Seu argumento era pôr em evidência o que significa professar uma fé abstrata, legalista e desencarnada do verdadeiro compromisso e da transformação que Jesus exige como o coração do Reino de Deus para os seus seguidores. Uma fé que não toca a alma nem a consciência, um cristianismo sem Cristo e sem cruz é uma fé estéril, inútil e vazia porque, ao final, não é sustentável. A isto Bonhoeffer chamou de “a graça barata”.
" A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”.
pastor Bonhoeffer ter escrito estas palavras em um contexto de tribulação por defender sua posição, é triste reconhecer que hoje alguns setores trilham o mesmo caminho que visa baratear a fé.
A fé se torna barata quando é oferecida como um produto de consumo para satisfazer as massas que buscam uma mensagem que se encaixe aos seus desejos pessoais. Quando é oferecida como espetáculo para um público que deseja que se adoce os ouvidos e se prometa estabilidade para seu "status quo". Quando se defende a identidade de ser filho ou filha de Deus como uma garantia para reivindicar as promessas materiais em troca de uma módica soma ou transação monetária a que alguns chamam de “lei da semeadura e da colheita” ou “pacto com Deus”.
Recentemente um tele-evangelista latino-americano ensinou (se é que se pode chamar de ensino) que devemos reclamar a Deus por qualquer necessidade material existente e pedir o "carro dos nossos sonhos como um direito adquirido por sermos seus filhos”.
Em seus trinta minutos de exposição, em nenhum momento ele fez menção a outros elementos presentes na mensagem apostólica, tais como a justiça, a responsabilidade, a obediência, o arrependimento e o seguimento como parte integral do discipulado que Jesus viveu, encarnou e buscou.
Os promotores dessas correntes correm perigo de ensinar falsos ensinamentos e, assim, reduzir a mensagem a “migalhas espirituais”. Bonhoeffer tinha razão ao afirmar que "a graça barata é o inimigo mortal da igreja".
A última conferência mundial sobre evangelização “Lausanne 3”, celebrada na Cidade do Cabo, África do Sul, se pronunciou contra a má interpretação bíblica e até a manipulação que se tem feito para alimentar o materialismo. Um dos oradores mencionou, em seu discurso intitulado "Deus promete abençoar o seu povo," que o evangelho da prosperidade distorce o conceito de bênção quando a reconhece apenas no sentido material.
Outros preletores também comentaram o problema:
“Nós não podemos usar a opção de comprar a graça de Deus, e isso é o que faz o evangelho da prosperidade”.
“Dar é parte da nossa adoração, mas o evangelho da prosperidade faz com que o dar seja uma atividade de barganha”.
“Aos crentes é ensinado que quando fazem uma oferta a Deus podem esperar uma rentabilidade determinada. Mas Deus abençoa de acordo com a sua sabedoria, e não necessariamente com riqueza material”.
Como crentes, não podemos permanecer calados diante desses falsos ensinos que continuam a permear a igreja e prejudicam a fé. Mas o mais preocupante é que eles continuam a arrastar milhares de seguidores para beber dessas águas turvas e ilusórias. E ainda mais perturbador é que eles estão deixando para as futuras gerações um legado de discipulado que em nada reflete o coração do Reino.
Bonhoeffer não se calou porque reconheceu que seu dever como um discípulo do Senhor era falar. Deus espera algo menos de cada um de nós, hoje?
Nota:
1. Publicado no Brasil pela Editora Sinodal, com o título “Discipulado”.
Referencia: Ultimato
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente e deixe sua opinião
Fique com Deus