sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Falar Palavrão é Pecado?


Muitos cristãos se perguntam se falar palavrão é pecado. Essa dúvida ocorre pelo fato de que o uso dos ditos palavrões se tornou quase que um traço cultural em diversos idiomas mundo a fora.

Geralmente, cristãos que defendem o uso de palavrões se apoiam nos seguintes argumentos:

  • Estamos inseridos em ambientes em que o uso de palavrões é frequente, o que acaba fazendo com que naturalmente assimilemos esse costume.
  • A maioria dos meus amigos e familiares fala palavrões, portanto se eu não falar parecerei um estranho na conversa.
  • Falo palavrões por vício, pois antes da conversão falei palavrões por muitos anos.
  • Quando falo palavrões não o faço com perversidade, apenas falo por costume mesmo.
  • Falo palavrões, pois a definição do que é palavrão é muita subjetiva, portanto não pode haver pecado em algo subjetivo em sua interpretação.

O que é palavrão?

De fato pode existir uma dificuldade na definição do que é o palavrão. No seu sentido original, palavrão seria uma palavra grande e de difícil pronúncia. Entretanto, popularmente, o palavrão passou a ser o termo mais usado para se referir as palavras de baixo calão, ou seja, palavras que apresentam conteúdo chulo, ofensivo, obseno, imoral e, de forma geral, impróprio.

Diante disso, muita gente questiona o que define se certa palavra é imprópria ou não. Também precisa ser considerada a verdade de que, dentro de um mesmo idioma, uma palavra específica pode ser considerada própria ou imprópria, dependendo da aplicação que se faz dela.

Ocorre também em um único país, o fato de uma palavra ser imprópria em uma região e comum em outra, como por exemplo, palavras que são impróprias no Nordeste do Brasil podem ser comuns no Sul. O mesmo ocorre com países diferentes que possuem o mesmo idioma. Por exemplo, muitas palavras que são consideradas palavrões no Brasil são palavras comuns em Portugal.

Por último, outro fenômeno que deve ser observado é o fato de que uma palavra que era considerada extremamente inapropriada tempos atrás, hoje é utilizada com muita naturalidade e ninguém mais a considera ofensiva.

Apesar de toda argumentação apresentada acima, e de todas as variáveis que envolvem a definição do que é palavrão ou não, uma coisa é certa: palavras próprias e impróprias sempre existiram, e sempre existirão na história da humanidade em qualquer parte do mundo. Logo, existe uma forma vulgar e uma apropriada para quase tudo, independente da época, do país e da região que estamos, de forma que não é nada difícil sabermos diferenciar exatamente uma da outra.

Falar palavrão é pecado? O que a Bíblia diz?

É claro que na Bíblia não encontraremos uma lista detalhada de palavras proibidas, mas encontraremos exatamente a recomendação de qual deve ser a linguagem utilizada pelos seguidores de Cristo. Deste o Antigo Testamento encontramos várias passagens bíblicas que nos ensinam tais princípios.

Também é verdade que cada uma dessas passagens possui sua respectiva interpretação de acordo com o contexto em que cada uma se apresenta, porém não há como negar que todas elas apontam para o modo de vida diferente que deve ser característico daqueles que são novas criaturas, incluindo seus atos, palavras e pensamentos.

No livro de Provérbios, por exemplo, temos algumas lições importantes sobre isso. No capítulo 4 e versículo 24, somos ensinados a afastar de nossa boca as palavras perversas, de modo que a maldade não seja encontrada em nossos lábios.

Já em Provérbios 6:12, uma ligação é estabelecida entre a prática de falar coisas maldosas com a perversidade e a falta de caráter. A mesma ideia é reforçada em Provérbios 15:28, onde de um lado é apresentado o justo como sendo alguém que pensa sabiamente nas palavras que saem de sua boca, e o perverso que transborda maldades de seus lábios.

No Evangelho de Mateus (cap. 12), Jesus, numa discussão com os fariseus, vai mais além, e enfatiza que as palavras que saem da boca apenas refletem o que há em abundância no coração (Mt 12:34). No versículo 36 do mesmo capítulo, Jesus ainda exorta sobr a verdade de que os homens terão de dar conta no dia do juízo por toda palavra frívola que proferirem.

Tiago, em sua epístola, também nos adverte sobre a condição da língua ser um membro que pode contaminar todo o corpo (Tg 3:6). Tiago fala que a língua é repleta de peçonha mortal, de modo que “com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus” (Tg 3:9). No versículo seguinte (vers. 10), Tiago fala que nossa boca é fonte de benção e maldição. Porém, ele mesmo ressalta que não convém que as coisas sejam assim. Os verdadeiros cristãos devem mostrar suas obras de mansidão e sabedoria pelo seu bom procedimento (Tg 3:13).

Já o Apóstolo Paulo, diversas vezes em suas epístolas tratou sobre os perigos do linguajar inapropriado. Em sua Epístola aos Coríntios (cap. 15:33), o Apóstolo faz o importante alerta: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes“. Aqui, provavelmente Paulo está citando um provérbio grego muito conhecido da época (presente na famosa peça Thais, do poeta grego Ménandros). Nessa frase, é utilizado o termo grego homiliai, que pode significar tanto “companhia” como “fala”. Isso significa que as más companhias e a linguagem profana e suja corrompem a reputação e respeitabilidade de uma pessoa, ou seja, nosso linguajar pode trazer honra ou desonra ao nosso nome, revelando quem somos interiormente.

Escrevendo aos Efésios, Paulo continua sua série de exortações sobre o cuidado que devemos ter com as palavras que saem de nossa boca:

Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem.
(Efésios 4:29)

Não haja obscenidade nem conversas tolas nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ação de graças.
(Efésios 5:4)

Em sua Epístola aos Colossenses, Paulo ensina que devemos nos despojar da “ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem obscena no vosso falar” (Cl 3:8). Mais a frente, o Apóstolo nos ensina como deve ser o nosso falar: “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um” (Cl 4:6).

Creio que nesse ponto já esteja mais do que clara a resposta bíblica para a pergunta sobre se falar palavrão é pecado. Na verdade, os textos apresentados vão ainda mais além do que simplesmente o palavrão em si, mas abrangem qualquer forma de conversa e palavreado que contradizem o perfil e a conduta esperada daqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo e agora vivem em novidade de vida.

Como já foi dito no início deste texto, sei que muitos cristãos lutam contra o vício de falar palavrão, principalmente os novos convertidos, que, durante muitos anos, tiveram essa prática presente em suas vidas. Porém, com sabedoria e perseverança, buscando a cada dia a santificação, essa luta certamente poderá ser vencida.

Para concluir, quero recorrer ao importante conselho do Apóstolo Paulo a Tito, um conselho que serve para todos nós:

Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade;
use linguagem sadia, contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se lhe opõem fiquem envergonhados por não terem nada de mal para dizer a nosso respeito.
(Tito 2:7,8)

Que possamos sempre nos lembrar de que a graça de Deus é quem nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a vivermos de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente (Tt 2:12). Meu desejo é que as palavras que refletem a completa transformação de nossas vidas causada pela maravilhosa obra de Cristo, encontrem morada em nossos lábios.

Fonte:Estilo Adoração





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