O Crescimento dos Evangélicos nos EUA e no Brasil e Seu Impacto Político
Nos últimos anos, o crescimento dos evangélicos nos Estados Unidos e no Brasil tem sido um fator decisivo na política e na sociedade. Embora parte da mídia tente sustentar a narrativa de que o secularismo está dominando, os dados revelam um cenário diferente: a fé cristã continua se fortalecendo, impactando diretamente o comportamento eleitoral e as direções políticas dos dois países.
O artigo "Uma Nação, Sob Deus", de Lauren Jackson, publicado no The New York Times, traz uma visão otimista sobre a estagnação do declínio religioso nos Estados Unidos, sugerindo que a secularização pode ter atingido uma pausa. Baseado em um estudo recente da Pew Research, Jackson argumenta que a espiritualidade americana permanece robusta, desafiando previsões de um colapso iminente do cristianismo. No entanto, uma análise crítica revela limitações na interpretação dos dados e omissões que subestimam o ressurgimento religioso, especialmente entre os evangélicos — um fenômeno que não se limita aos EUA, mas também ganha força no Brasil, com implicações profundas para as próximas eleições em ambos os países.
Jackson celebra a estabilidade da religiosidade americana, apontando que 92% dos adultos entrevistados pela Pew afirmam ter crenças espirituais e que a "ascensão dos nones" (aqueles sem religião) parou. No entanto, o artigo falha em explorar a composição desse grupo religioso remanescente. A estabilização pode mascarar uma polarização: enquanto os "nones" estacionaram em cerca de 30%, o cristianismo evangélico — uma força conservadora e politicamente ativa — está em ascensão, como evidenciado por tendências culturais e políticas mencionadas apenas de passagem por Jackson (ex.: apoio de figuras como Trump e Elon Musk). O foco na espiritualidade genérica (crença em Deus ou "algo além") dilui a relevância do crescimento de grupos organizados, como os evangélicos, que não apenas mantêm a fé, mas a projetam como força política.
Além disso, a explicação de Jackson sobre a pandemia como um freio à secularização é plausível, mas carece de profundidade. A Pew aponta que 25% dos americanos disseram que a pandemia fortaleceu sua fé, mas o artigo não investiga como isso se traduziu em adesão a igrejas específicas ou em mudanças de longo prazo. A estabilização pode ser temporária, como os próprios autores do relatório admitem, mas Jackson prefere uma narrativa de resiliência espiritual sem questionar se o conservadorismo religioso está, na verdade, ganhando terreno em detrimento de formas mais liberais de fé.
O Boom Evangélico no Brasil
No Brasil, o crescimento evangélico é ainda mais impressionante e mensurável, como destacado no levantamento da Mar Asset Management publicado pela Conexão Política. Em 2022, estados como Rondônia (52%), Amazonas (50%), Espírito Santo (47%) e Acre (46%) já eram de maioria evangélica. A projeção para 2026 estima que os evangélicos alcançarão 35,8% da população nacional, com o Norte (48%) e o Centro-Oeste (43%) liderando. Esse avanço é acompanhado por uma explosão de igrejas: o número de templos dobrou na última década, atingindo 140 mil em 2023, com 5 mil novas aberturas anuais.
Esse crescimento não é apenas demográfico, mas político. A pesquisa da Mar Asset Management observa que os evangélicos brasileiros alinham-se majoritariamente a pautas conservadoras, rejeitando agendas como o aborto e apoiando candidatos de direita. Em 2022, 69% deles votaram em Jair Bolsonaro contra 31% em Lula, segundo posts no X analisados em conjunto com dados eleitorais. Com sua proporção populacional aumentando, os evangélicos podem ser decisivos em 2026, potencialmente barrando a reeleição do PT, como sugerem analistas como Juliano Spyer em artigo na Folha de S.Paulo.
Com uma previsão de 35,8% da população brasileira sendo evangélica em 2026, a influência desse grupo na política será decisiva. Em regiões como o Norte e Centro-Oeste, onde a presença evangélica ultrapassará os 45%, a escolha de governantes e legisladores dependerá fortemente do apoio desse segmento.
Temas como educação com valores cristãos, políticas contra a ideologia de gênero e liberdade de expressão religiosa têm se tornado centrais no debate político. O fortalecimento das bancadas evangélicas no Congresso Nacional é um reflexo direto desse crescimento, garantindo que pautas conservadoras ganhem cada vez mais espaço no governo.
O artigo de Lauren Jackson acerta ao apontar que a religião não está morrendo nos EUA, mas erra ao tratá-la como um fenômeno estático e homogêneo. Nos EUA e no Brasil, o que vemos não é apenas a sobrevivência da fé, mas o avanço de um cristianismo evangélico dinâmico, politizado e em expansão. Nos EUA, isso garante à direita uma base fiel; no Brasil, ameaça a hegemonia da esquerda. As próximas eleições em ambos os países não serão moldadas apenas pela espiritualidade difusa, mas pela força organizada dos evangélicos — um fator que Jackson subestima, mas que os dados e as tendências deixam claro. A verdadeira história é menos sobre a pausa da secularização e mais sobre a ascensão de um novo poder religioso.
Fonte: https://www.nytimes.com/2025/02/26/briefing/one-nation-under-god.html
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